terça-feira, janeiro 31, 2006

The way I see IT - 4

Etelvina já cansada de viver sem ninguém
a não ser de vez em quando amores de vai e vem
pôs um anúncio no jornal que dizia assim
"mulher desembaraçada
quer viver com alma irmã
de quem não seja criada
de quem não seja mamã"

Etelvina já sabia que não ia encontrar
nem um príncipe encantado nem um lobo do mar
só alguém com quem pudesse dizer assim
"o amor já não é cego
abre os olhinhos à gente
faz lutar com mais apego
a quem quer vida diferente"

O seu homem encontrou-o à noite
a dormir à beira rio à noite à noite
acocorado com o frio à noite à noite
Sérgio Godinho

segunda-feira, janeiro 30, 2006

género e poder

"ah, que alegria quando uma mulher encontra um homem a quem pode submeter-se, a alegria da sua feminilidade expandindo-se em braços fortes" anais nin

re-arranjos possíveis:

"ah, que alegria quando uma mulher encontra uma mulher a quem pode submeter-se, a alegria da sua feminilidade expandindo-se em braços fortes"

"ah, que alegria quando um homem encontra uma mulher a quem pode submeter-se, a alegria da sua feminilidade expandindo-se em braços fortes"

"ah, que alegria quando um homem encontra um homem a quem pode submeter-se, a alegria da sua feminilidade expandindo-se em braços fortes"

"ah, que alegria quando um homem encontra uma mulher que pode submeter, a alegria da sua masculinidade expandindo-se em braços fracos"

"ah, que alegria quando um homem encontra um homem que pode submeter, a alegria da sua masculinidade expandindo-se em braços fracos"

"ah, que alegria quando uma mulher encontra uma mulher que pode submeter, a alegria da sua masculinidade expandindo-se em braços fracos"

"ah, que alegria quando uma mulher encontra um homem que pode submeter, a alegria da sua masculinidade expandindo-se em braços fracos"


outra forma de dizer:

"Some of them want to use you
Some of them want to get used by you
Some of them want to abuse you
Some of them want to be abused" (sweet dreams, Eurythmics)

e o amor é outro sistema de coordenadas, que não as do poder

a cidade e a sensibilidade

"Graham: It's the sense of touch. In any real city, you walk, you know? You brush past people, people bump into you. In L.A., nobody touches you. We're always behind this metal and glass. I think we miss that touch so much, that we crash into each other, just so we can feel something. " Crash, Paul Haggis



"(...) E eu estou em ti fechada e apenas vejo
Os muros e as paredes, e não vejo
Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas. (...)"
Cidade, Sophia Mello Breyner Andersen

a inveja, tese frágil

para quem acredita em deus, a inveja não é um sentimento apontado da pessoa para o invejado, mas um sentimento entre a pessoa e um deus-pai, que preferiu um outro dos seus filhos.
quem acredita em deus nunca sente inveja, mas só ciúme:


"[Addressing a crucifix] Salieri: From now on we are enemies, You and I. Because You choose for Your instrument a boastful, lustful, smutty, infantile boy and give me only the ability to recognize the incarnation. Because You are unjust, unfair, unkind I will block You, I swear it. I will hinder and harm Your creature on Earth as far as I am able. I will ruin Your incarnation. " (amadeus, milos forman)

sexta-feira, janeiro 27, 2006

por favor, não deixem o meu sobrinho falar com o meu pai!


"mãe, a matemática é o estudo das diferenças"

tiago, 6 anos


(eu e os meus irmãos tinhamos mais cera nos ouvidos)

assim, assim, para eu gostar de mim

"oh ana, eu quero sentir as coisas assim"

e dentro de mim cresceu uma ternura imensa e tive vontade de lhe dar colo e prometer que um dia ela vai sentir as coisas assim.

mas no fundo eu não acreditava que as coisas pudessem ser sentidas assim, não aqui, não nesta cidade, não com este tipo de vida, não com este cinismo, não com este prêt-a-porter, não com milhares de solicitações a evitarem que nos foquemos, não com tanta gente a passar por nós ao mesmo tempo, não com tão pouco tempo para estarmos uns com os outros, apenas lá.





talvez o pior mal do consumismo seja matar a intensidade com que conseguimos sentir as pequenas coisas, pôr-nos cera nos ouvidos, e não nos dar a cotonete. há quem acredite que a solução seja intensificar as fontes, aumentar o volume, ir até ao limiar da vida.


Crash, 1996, Cronenberg

mas há também quem não vá por aí...

quinta-feira, janeiro 26, 2006

qual outra face qual carapuça, um post zangado

a mim parece-me que por vezes a puta da vingança, a mal vista da vingaça, a vingaça impopular, a vingança nada cristã, brega, baixinha, sem nível, a vingança mal assumida sequer, é a mais divertida e criativa das formas de repor os níveis internos de auto-respeito.

dar o quid pro quo para manter o status quo.

por isso me ofereço sempre para furar pneus de quem merece um prato frio.

quarta-feira, janeiro 25, 2006

jazz narcisico

diferentes pessoas puxam por diferentes coisas em mim.

desconfio que quando digo "tenho saudades de B" o que estou mesmo a sentir é "tenho saudades da pessoa que sou com B".

terça-feira, janeiro 24, 2006

o valor da cotonete

todos gostamos de sentir

eu invejo mais quem reconhece pequenos pormenores numa música, do que quem a ouve em altos berros

segunda-feira, janeiro 23, 2006

me belisque vai!

É-me mais dificil saber se estou mesmo viva, se de facto existo, quando estou só.

... para além de alésia...

... ontem fiquei com uma certa vontade de experimentar viver uns anos em beja!

... com ela não funcionou muito bem, parece-me...

"we stayed at home to write, to consolidate our outstretched selves."

Sylvia Plath

não sei onde é a alésia, nem sei nada sobre umas ditas eleições!

sexta-feira, janeiro 20, 2006

contra-ponto, contra-post


please welcome natalie portman, maggie gyllenhaal and kirsten dunst



































tese ou uma embirração de estimação



"se já és vistosa, não invistas mais"

ou

"sp gostei mais do estilo negligé"

ou

agora escolha: loira ou loira, nos filmes (lost in translation) ou nos prémios (globos de ouro)


what is it...

"... that stands between us and the grave and the general and widely ignored futility of the human condition"?

(italico meu, citação tirada daqui e especialmente referida pelo tiago mendes aqui)

the way i see IT - 3

"And I dreamed your dream for you and now your dream is real"

Romeo and Juliet, Dire Straits

quinta-feira, janeiro 19, 2006

de olhos bem abertos

o gin em vez do charro
o vermelho em vez do azul
o escaldante em vez do morno
o amargo em vez do doce
o punk em vez do pop
o mergulho em vez do passeio
a concentração a concentração a concentração a concentração...

quarta-feira, janeiro 18, 2006

e até há algumas bem giras!, ou , afinal não estava a aguentar com tanta maturidade

quer me parecer que os 28, a par de outras benesses, me tiraram a verborreia.

uau! e não é que fiquei mesmo mais madura?

segunda-feira, janeiro 16, 2006

eles até dizem que ele é o novo malkovich

mais cordeiros de deus...


peter sarsgaard, ohmeugrandebemsejas!, no jarhead. a ver. mas como inscrevê-lo aqui na minha vida?

sexta-feira, janeiro 13, 2006

AMANHÃ FAÇO 28 ANOS!!!!

e estou bem contente!

foram uns muito bons 27 anos!

agrdeço-vos a parte que vos toca!

eh pá, amanhã faço anos, sinto-me muito bem com isso, e este post é só pra dizer isso.

às vezes sinto-me punk ... e rezo assim

tiraram-nos o direito à conquista, o direito à luta, o direito à dificuldade, o direito à fome, o direito à violência justificada, o direito à agressividade, o direito ao frio, o direito à luta corpo-a-corpo, o direito ao assassínio, o direito à escarra na cara alheia, o direito ao mau hálito, o direito ao ridículo, o direito ao feio, o direito ao indelicado, o direito à arrogância,

mas deixaram-nos com o direito à cobardia

felizmente que existe o rock, para mimetizarmos qualquer coisa que não sabemos de onde vem mas que não tem para onde ir.

cordeiros de deus...


... ou o que é sacrificado para que vivamos como vivemos.


quinta-feira, janeiro 12, 2006

advertência - 2


não confundir falta de delicadeza com falta de elegância












foto: cindy sherman

advertências

não confundir delicadeza com ternura

não confundir falta de delicadeza com arrogância

delicat'essen



"pour delicatesse j'ai perdu ma vie"

Rimbaud

foto: cindy sherman

quarta-feira, janeiro 11, 2006

é hoje!

"The Honourable George W. Bush
The President of the United States
1600 Pennsylvania Avenue NW Washington DC 20500
United States of America
E-mail: president@whitehouse.gov"

vou mandar um mail ao honourable! e vou mandar uma carta também!

não sei se serve de alguma coisa, duvido que, de facto, "the US government (will) set up a commission of inquiry into all aspects of the detention policies and practices taken on the "war on terror" led by the USA"
mas será que a cia (assim em minusculas para não darem por mim) vai abrir um processo com o meu nome?
será que vos-outros que aqui me visitam vão também ser vigiados e assim famosos num sub-sub-escritório da CIA?
não sei se a amnistia internacional consegue alguma coisa com estas cartas, espero-o o torço os dedos por dentro das botas, mas seduz-me ter um processo na cia, sentir-me assim importante, quase cosmopolita, e poder entrar por esses saldos a dentro com o queixo ligeiramente levantado: sim, sim, sou burguesa e fútil, mas tenho um processo na cia!

a bondade compensa! e o armário agradece!

terça-feira, janeiro 10, 2006

Tenho vestido um casaco branco, um casaco azul, um casaco cinzento, um pólo azul, uma t-shirt castanha, um soutien preto, umas cuecas pretas, uns collants pretos, umas calças pretas e umas botas pretas, uns óculos e uns auscultadores. E dos auscultadores, que saiem duma coluna, que sai dum computador, de onde sai este teclado onde escrevo isto que leio neste ecran, desses auscultadores sai uma música direitinha aos meus ouvidos, que não têm nada vestido, uma música que me lembra que há um sítio e um lugar onde nada disto existe, e onde podia ser bem mais feliz.
Preciso de cuidar de mim!, disse o T, 6 anos, recusando o leite de chocolate e preferindo o leite simples.
Eu pensei: como? então mas tu nem sequer corres o risco de ter celulite!

se gostas de engodard toma umas frases para meditard

com tantas boas frases portuguesas de engate, não sei pq é que ainda há por aí marialvas a recorrer a engodardmentos! estas são as mais decentes, daquelas que sei:

  • "com um cuzinho tão lindo deves cagar bombons"
  • "óh estrela, queres cometa?"
  • "oh flôr, dá p'ra pôr?"

entre a nausea e a gargalhada

a minha vida tem traços de comédia, neste momento acabou de acontecer um dos melhores momentos: recebi um email de um ex-qq-coisa meu, onde ele anexava, sem querer, uma carta para uma rapariga, que eu li, espantada, só percebendo no fim que não era para mim.

eu sei que é pedir muito que o nosso estilo literário mude em 6 anos, eu sei que é pedir muito que ele se envolva com pessoas com olhos de cor diferente, eu sei que é pedir muito que ele deixe de usar palavras como "nevoeiro" e "silêncio" como palavras de arremesso, mas será pedir muito que ele deixe de engodard?

domingo, janeiro 08, 2006

sagrado versus profano




estava a ouvir tricky, nos seus duelos-duetos com a constanza (album vulnerable) e não consegui não saltar da cadeira e dançar a musica "how high". e lembrei-me "estou aqui agora a dançar e há uns anos atrás estaria neste momento a regressar da missa".

será uma das opções mais "sagrada" do que a outra? poderei eu dizer que substitui rituais sagrados por rituais profanos?
não, de todo, nada.

não há para mim forma melhor de celebrar a vida, isto de estar viva que é o que de mais sagrado tenho, do que estar a dançar, toda imersa na música.

por vezes profano a dança, quando o cansaço chega.

manter uma religião pode ser uma questão de afectar a energia necessária e suficiente para não vulgarizar espaços, sejam eles quais forem, cada um que decida os seus.









if music says "jump jump" i say "how high?"

será maturidade?

ter força para não ceder ao desejo de matar a dúvida, sabendo que isso seria também a morte do respeito.

sexta-feira, janeiro 06, 2006

será falta de maturidade?

acho mais piada a duelos que a duetos!

golias contra-ataca...

... e david sente um tremor e um calor na sua mão acompanhados por sons e odores que não dão margens para dúvidas.

"- oh mãe do goooolllliiiiiaaaasssss..."

diz david, ternurento e orgulhoso, mas lembrando-se que tem outras tarefas mui mui urgentes para desempenhar.

david contra golias

golias: teresa, mês e meio de idade, 57 cm, 4kg430
david: ana, 27 anos de idade, 1m60, 55kg330

golias saca de um choro de goela aberta, david fica intimidado, mas pega-lhe ao colo.
golias continua a chorar, como se quisesse quebrar todas as janelas, e de nada tivesse servido pegarem-lhe ao colo.
david continua intimidado e inicia um canto bem conhecido para atordoar gigantes deste tipo. não funciona. a voz não é um dos atributos de david. golias continua a berrar. a mãe de golias olha para david, que desvia o olhar mostrando-se confiante.
david começa a dançar com golias ao colo. golias fica perturbado! que novo ritmo é aquele? que movimento harmonioso! que nova forma de se sentir balançar no mundo! golias pára de chorar.
david sente-se vitorioso. só não faz o seu movimento habitual de vitória porque deixaria cair o golias ao chão! espeta um beijo ao golias e deixa afundar-se naquela bochecha tenra.

velhos ensinamentos do meu pai aplicados à minha realidade concreta

antes dizia-se:

"chama-lhe puta antes que te chamem a ti"

eu digo:

"chama-lhe bourgeois antes que te chamem a ti"

(até pq pode ser que ele/ela não note que usaste a palavra em francês, minha granda/meu granda snob!)

quinta-feira, janeiro 05, 2006

filme

já nem sequer tenho a certeza que isto tenha de facto acontecido, mas segundo me lembro tinha acabado de estacionar a minha doce Ilda (o meu carro, para quem ainda não tenha tido o prazer de conhecer) na rua dos meus pais, e estava a chover a potes. à falta constante de um chapéu de chuva, deixei-me ficar um bocadinho no carro (é só comigo que acontece esta vontade de permanecer um bocadinho no carro depois de o estacionar, mesmo que não esteja a chover?). devia estar a ouvir a radar ou a antena 3, porque infelizmente não conheço muitas mais (burguesa sub-urbana, ouve radar, xii, banalidade a quanto obrigas) e começa a dar uma música dos doors.

nunca fui muito fã dos doors, se bem que acho que foi com música deles que comecei a mexer os braços enquanto dançava (o que é um grande marco para mim, podem não acreditar, mas foi uma espécie de libertação do meu corpo), mas as letras deles são muito estranhas para mim, "és o rei lagarto? és o rei lagarto? mas para que é que isso me serve meu badochas?" é o tipo de pensamento que se me ocorre.

mas aquela música com aquela voz com aquela chuva estavam a saber-me bem. deixei-me ficar. devo me ter deixado ficar mesmo muito tempo (e a mãezinha em casa ralada) porque ouvi a música até ao fim, e acho que os doors nunca primaram por serem sucintos (como os pink floyd, aliás), acho que sentem que têm muito que dizer.

bom, mas então no fim o jim dizia qualquer coisa como que há uma forma de ver o pós morte que é pensar que vamos passar a eternidade a ver sempre o mesmo filme, vezes sem conta, e que esse filme é a nossa vida, em tempo real, sem aqueles extras dos dvds, que é passar por cima de capítulos e tal. não, se "aquilo" for verdade, eu daqui a uns bons anicos, quando morrer, vou iniciar uma duradoura vistoria do filme da minha vida, o que quer dizer que vou-me ver a escrever que me vou ver nesse filme. ehehe

"e então minha badochas, para que é que isto me serve?" perguntam vocês. bom, hoje acordei a pensar nisto. é uma forma engraçada de ver a eternidade, e é certamente uma forma engraçada de estruturar a vida: dizer "eh pá, desculpa lá mas não vou fazer isso contigo porque senão na eternidade vou ter que ver que fiz isso, e acho que me vai dar ansiedade sentir que não posso passar esse episódio à frente" em vez de um simples "não" quando a nossa mãe nos perguntar se queremos ir com ela a uma reunião tupperware. não sei se ela vai entender muito bem a resposta, ou ficar com aquele olhar de "ai! onde é que eu falhei?", mas podemos sempre dizer-lhe "deixa-te de ser sonsa que eu sei bem que andaste de mamocas ao léu num concerto de doors".

quarta-feira, janeiro 04, 2006

mais um teste mais uma viagem

ah, a madonna diz que é esta a sua sucessora... ;-b

Your Celebrity Style Twin is Gwen Stefani

Trendsetting, unique, and stylish.
tenho que assumir, eu adoro testes de gajas

tenho que assumir, tinha dado a carrie, mas eu detesto a carrie, por isso alterei 2 perguntas para a segunda escolha e deu-me quem? quem? quem?

ah pois é!

You Are Most Like Samantha!
For you, dating is the ultimate sportYou're into guys with power, looks, or a lot of money.You rather have a great two weeks than a great forever.But even you fall victim to love from time to time. :-)
Romantic prediction: You'll find love in the next few months...
But you'll be the last one to realize it.
Which Sex and the City Vixen Are You?

terça-feira, janeiro 03, 2006

Glossário pessoal - 2

Solidão burilante – a que é usada para proveito próprio e, consequentemente, indirectamente, para proveito alheio.

rebajas cartesianas

compras, logo existes

segunda-feira, janeiro 02, 2006

resolução de ano novo

deixar na rua da amargura, para sempre, a sensação bacoucó-nostalgica do refrão "I'm half the man I used to be", imprimido nas fimbrias do meu ser adolescente.

sim, nem que seja à custa da ingestão diária de várias latas de leite condensado e sandezitas de torresmos!

personagens estranhas

era tão easy going que nem os seus polegares eram oponíveis