quinta-feira, julho 07, 2005

no início era o verbo

que forma tão estranha de começar o livro mais importante do mundo (parece-me)
o que quer dizer isto de "no inicio era o verbo"?

em 12 anos de educação católica que tive nunca ninguém me explicou isto, talvez porque nunca tenha perguntar vezes suficientes

independentemente de acreditar na origem divina daquele documento- o que me parece estranho é que, se existe deus, se ele foi o criador, então tudo tem origem divina - o interesse é que aquela frase está num documento que é basilar em 3 culturas (por acaso não sei se os muçulmanos ligam muito ao antigo-testamento, mas pelo menos 2 culturas ligam)!

e o que é que o escritor daquela frase quis dizer? será que foi bem traduzida?
(é espantosa a quantidade de palavras que existem numas linguas e não existem noutras - dá-me para pensar que se calhar ou há conceitos que não existem em diferentes culturas, OU ENTÃO, há imensos vazios de expressão, e daí a arte, o que também não está mal, como alguém me disse o stravinsky dizia qq coisa como que o fundamental da arte é a forma como o artista lida com os limites da mesma)

voltando ao início, e no início era o verbo...
os verbo são aquelas palavras que nos indicam a acção, mas qual é O VERBO? será o verbo amar(lá estou eu com as lamechices), ou era simplesmente o potencial para que todos os verbos pudessem surgir?

6 Comments:

Blogger ana vicente said...

Antes de mais, felicitações pelo blog.

Em relação ao que acabas de escrever, há com certeza imensos textos sobre o assunto. Espero que o j.c.t.p. nos venha aqui elucidar.

No entanto, essa frase sempre me sugeriu (e com certeza de algum lado me veio esta ideia) que o pensamento em Deus (se assim se pode falar) equivale a acção. Ele disse é e foi mesmo. Daí a santíssima trindade Pai, Filho e Espírito Santo. Um uno.

Por isso, o homem se assemelhar a Deus, por fazer parte desse verbo: o homem tem a capacidade de reconhecer a obra de Deus, nomeando as coisas.

Espero não ter blasfemado.

Voltarei.

julho 07, 2005  
Blogger ana said...

obrigada ana vicente pela visita e pelo comentário.

nunca tinha pensado nisso assim... o pensamento para deus é logo a acção. que bom que conosco não é assim ;-)

quando nós nomeamos não fazemos crescer, é como se fizessemos a coisa oposta: deus diz e a coisa é, a coisa é e nós dizemos...
por isso dá gozo quando dizemos e a coisa é, quando criamos, quando brincamos a pequenos deuses...

e daí qualquer forma de criação (como a arte) é uma forma de "santidade"

ihih, de pornografia para santidade, em menos de 3 comments

julho 07, 2005  
Blogger jctp said...

Olá, Ana.

Olá, Ana Vicente.

Para mim no princípio era o verbo significa que no princípio era a palavra e foi por ela que tudo foi criado no universo de sentido que é o único universo verdadeiramente humano, e, portanto, divino. Mas isto é teologia cristã, bastante antropocênctrica, como se sabe, ou não fosse o próprio Deus homem.

Mas a frase não está no princípio do livro mais importante do mundo – suponho que falas da Bíblia -, a frase está no início do Evangelho de João. A não ser que o Evangelho de João seja o livro mais importante do mundo. O que também não me parece mal.:)

No primeiro livro do livro (mas aquilo é quase uma biblioteca) mais importante do mundo o que se diz é: No princípio Deus criou o céu e a terra. E é interessante - e deve também ter sido isso que levou o João a dizer que no princípio era o verbo – que Deus, como a Ana Vicente diz, cria nomeando. Faça-se luz, e a luz faz-se. Haja um firmamento no meio das águas que separe as águas das águas, e ele surge. E por aí adiante. Até à criação do homem e da mulher. Aí se começa por dizer apenas que Deus os criou à sua imagem e semelhança. Mas na outra versão, a mais famosa, em que Deus cria primeiro o homem e depois a mulher de uma costela, aí Deus cria o homem a partir do barro. E assim o demiurgo da palavra se transforma em artesão. :)

A propósito, há uma passagem em O Evangelho Segundo Jesus Cristo, do José Saramago, em que Jesus, o mensageiro da palavra, também se transforma em artesão. Se não te importas, deixo-a aqui:

"Do meio da multidão veio então uma voz, Dá-nos uma prova de que és o Filho de Deus e eu seguir-te-ei, Tu seguir-me-ias sempre se o teu coração te trouxesse até mim, mas o teu coração está preso dentro de um peito fechado, por isso pedes-me uma prova que os teus sentidos possam compreender, pois bem, vou dar-te agora uma prova que dará satisfação aos teus sentidos, mas que a tua cabeça recusará, e, no fim, estando tu dividido e perplexo entre a cabeça e os sentidos, não terás outro remédio senão vir a mim pelo coração, Quem puder entender que entenda, eu não entendo, disse o homem, Como te chamas, Tomé, Vem aqui, Tomé, vem comigo até à borda da água, vem ver-me fazer uns pássaros com esta lama que colho às mãos cheias, repara como é tão fácil, formo e modelo o corpo e as asas, afeiçoo a forma da cabeça e do bico, engasto estas pedrinhas que são os olhos, ajeito as penas compridas da cauda, equilibro-lhes as pernas e os dedos, e, tendo feito este, faço mais onze, aqui os tens, um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze pássaros de lama, imagina, até podemos, se quiseres, dar-lhes nomes, este é Simão, este André, este João, e este, se não te importas, chamar-se-á Tomé, quanto aos outros vamos esperar que os nomes apareçam, os nomes, muitas vezes, atrasam-se no caminho, chegam mais tarde, e agora vê como faço, lanço esta rede por cima das avezinhas para que elas não possam fugir, os pássaros, se não temos cuidado, Queres dizer-me que se esta rede for levantada, os pássaros fogem, perguntou, incrédulo, Tomé, Sim, se a rede for levantada, os pássaros fogem, Esta é a prova com que querias convencer-me, Sim e não, Como, sim e não, A melhor prova, mas essa não é de mim que depende, seria não levantares tu a rede e acreditares que os pássaros fugiriam se a levantasses, São de barro, não podem fugir, Experimenta, também Adão, nosso primeiro pai, foi de barro e tu descendes dele, A Adão deu-lhe a vida Deus, Não duvides mais, Tomé, e levanta a rede, eu sou o Filho de Deus, Assim o quiseste, assim o terás, estes pássaros não voarão, com um movimento rápido Tomé levantou a rede, e os pássaros, livres, levantaram voo, deram, chilreando, duas voltas sobre a multidão maravilhada e desapareceram no espaço. Disse Jesus, Olha, Tomé, o teu pássaro foi-se embora, e Tomé respondeu, Não, Senhor, está aqui ajoelhado aos teus pés, sou eu." (José Saramago)

julho 07, 2005  
Blogger ana said...

obrigada j.c.t.p. pela correcção!
de facto vivia iludida que era no primeiro dos primeiros.
gostei muito do envagelho segundo jesus cristo mas já não me lembrava dessa passagem.
gostei especialmente da frase "Tu seguir-me-ias sempre se o teu coração te trouxesse até mim, mas o teu coração está preso dentro de um peito fechado"...
independentemente de acreditar ou não em deus, de uma certa forma gostava de acreditar que o meu coração não está preso dentro de um peito fechado!

julho 08, 2005  
Blogger indigente andrajoso said...

realmente não esta no inicio da biblia.

"no inicio era o verbo"

o verbo significa uma acção, condição de não estar parado, mas tambem significa Deus na 3º pessoa.

assim "directamente" interpreto que no inicio existia Deus e Deus é em sí acção, acontecimento, veiculo que mete a engrenagem a mexer ao mesmo tempo que a cria.

julho 13, 2005  
Blogger Turn Down For What - Deal With it said...

Este comentário foi removido pelo autor.

outubro 09, 2012  

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