lisboetas, o filme, a ver!

eu não sabia que a minha cidade era assim. não sabia que quando dizia lisboa não incluia tudo o que ela era. não sabia que a lisboa real é mais feia e mais bonita, mais plural. pensava que conhecia lisboa. sou daquelas fãs de lisboa. emprestei isto do meu amigo viriato, no início, mas agora também é meu. penso em lisboa e no rio, e quando vou para fora tenho sempre o interno raciocínio de pensar que lisboa é melhor. e afinal lisboa é ainda mais bonita e ainda mais feia, e ainda mais muito para além. e percebo-me que tudo estava lá afinal, como uma realidade que não é paralela mas simultânea, que apenas os olhos nunca estão lá para reconhecer. sim, aquela pessoa passou por ali, sim, aquela imagem é-me familiar, mas eu nunca tinha visto mesmo, nem nunca tinha ouvido mesmo.

"e foste um difícil começo
afasto o que não conheço
e quem vende outro sonho feliz de cidade
aprende de pressa a chamar-te de realidade
porque és o avesso do avesso do avesso do avesso

do povo oprimido nas filas, nas vilas, favelas
da força da grana que ergue e destrói coisas belas
da feia fumaça que sobe apagando as estrelas
eu vejo surgir teus poetas de campos e espaços
tuas oficinas de florestas, teus deuses da chuva
panaméricas de áfricas utópicas, túmulo do samba
mais possível novo quilombo de zumbie
os novos baianos passeiam na tua garoa
e novos baianos te podem curtir numa boa."

(sampa, de caetano veloso)