quinta-feira, julho 28, 2005

FAQ - 3

Porque é que a quantidade de publicidade aumentou, nas salas de cinema e nos espaços públicos, e eu não senti quaisquer contra-partidas quer em termos de redução do preço do cinema ou de melhoria do estado das ruas da cidade?

A publicidade irrita-me. Não que não goste de alguma (como não rir do anúncio do cão afónico?), mas não entendo como é que é possível que cada vez tenha que comer mais publicidade sem me conseguir proteger nem haver uma contrapartida.

A publicidade é supostamente um mecanismo de informação que aumenta a nossa capacidade de escolhermos os nossos satisfactores. pessoalmente não sinto que me informe

da mesma forma que o número de outdoors com "publicidade política" aumentou, sem haver o mínimo de informação que permita perceber o que os candidatos nos "oferecem"... ´

10 Comments:

Blogger ana vicente said...

A publicidade informativa não funciona. Basta vermos os anúncios a detergentes com equipas de especialistas a entrarem dentro da roupa, como se isso nos interessasse.
A publicidade, quando dá um tom informativo, na maior parte dos casos quer simplesmente passar uma imagem de notoriedade e credibilidade. Não nos quer explicar. Diz-nos que vamos ser assim ou assados com determinado produto ou serviço. Leva-nos para um imaginário. Pretende-nos passar um conceito, única e simplesmente. É por isso que há criativos em publicidade e não gestores - porque eles têm de arranjar O CONCEITO.

A publicidade engana-nos a maior parte das vezes. A publicidade é para ser vista à distância. É completamente inútil para a sociedade, mas não para o mercado. E mesmo para o mercado, começo a ter as minhas dúvidas.

Se estiver a fazer zapping, coisa realmente rara, páro quando vejo anúncios. Adoro vê-los. Mas são inúteis. Não é um "mecanismo de informação" - essa é outra parte da comunicação das empresas -, pelo contrário é um mecanismo de estímulo à informação. Quer pôr-te toda a funcionar naquela direcção, para quereres ter, para não poderes viver sem ter, passo o exagero. Quer simplesmente envolver-te, usando para isso todos os meios de manipulação que tiver ao dispor.

Da mesma forma as campanhas políticas só podem levar-te lá pela envolvência. Nenhum programa credível cabe num outdoor. Vê o caso da campanha do PS para as legislativas - queria dar imagem de credibilidade e por isso colocava lá medidas do programa. Mas era apenas para gerar credibilidade. Hu... choque tecnológico. Estes devem mesmo saber do que estão a falar - passa credibilidade, sem qualquer informação útil ou real para a maioria dos eleitores.

julho 28, 2005  
Blogger ana said...

concordo com o que tu dizes...

mas não te choca este alastrar de publicidade em todos os espaços públicos?

antes dos filmes, casas de banho, ruas, fachadas de prédios, etc etc

eu até nem me importava de ver essa publicidade toda-gira-toda mas EU sei que "eles" (este eles parece esquizo, eihn?) se estão a aproveitar do meu espaço e tempo para proveito deles(nem que seja só das agências publicitárias, pq, sim a publicidade so gera a necessidade da concorrencia fazer mais publicidade, e os gastos com ela andam a aumentar à bruta)

... e não me dão nenhuma contra-partida... SE TENHO QUE PAPAR PUBLICIDADE, AO MENOS QUERO QUE OS BILHETES DO CINEMA SEJAM MAIS BARATOS!!! (da mm forma que acontece com os jornais e com a TV)

é que 5 euros é bué! (e daí tv seja melhor assim, para ter mais tempo fora do modus consumista)

(ufa, que escrevo frases grandes)

julho 28, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Para mim uma boa publicidade é...
Quando consegues criar uma necessidade na pessoa que antes não existia.

Quando digo boa publicidade, não estou a referir-me à qualidade, mas sim ao se o objectivo foi cumprido! A pub nos cinemas tem uma vantagem, assim o pessoal já se pode atrasar =D

julho 28, 2005  
Blogger ana vicente said...

Claro que me chateia toda esta publicidade. Acabei de escrever que a considerava inútil. Mas o mais assustador, ou talvez não, é que a própria publicidade já começa a tornar-se um bem de consumo, como referi no meu caso.

Consumimos pub e cada vez estamos menos sensíveis aos seus mecanismos de manipulação. É por isso que se arranjam cada vez mais meios para captar mais pessoas a produtos ou serviços. Quando estás a dar dados teus estás a dar algo valiosíssimo para as empresas. Os dados comercializam-se e tenho quase a certeza que não há um indivíduo do mundo "civilizado" que não tenha o seu perfil traçado num qualquer arquivo. Mas fica sempre aquém, certo?, aquém do que de facto somos. No entanto, eles vão traçando o nosso perfil e induzindo-nos por certos caminhos. Mas tu tens regalias por isso, mas não deixas de ser manipulado.
Por exemplo, a Amazon. Através da compra de um livro, eles sugerem-te logo outros 12 que as pessoas que compraram esse livro também compraram. E tu pensas: fixe, precisava desta informação. Mas vais balizando as tuas escolhas pelo paradigma que fazem de ti. Mas estão aquém. Temos de usá-los como nos usam a nós, é a única maneira. E permanecermos livres nalgum ponto de nós...

Também queria que, graças à publicidade, os preços dos bilhetes de cinema baixassem. Mas é impossível, porque é tudo um ciclo autofágico. As agências comem as empresas que por sua vez comem as agências e os cinemas que têm de comer também uma empresa de media, marketing, and so on. No meio deste processo, são pessoas que estão a trabalhar sem qualquer controlo sobre o que está a acontecer. Ninguém controla nada - eu trabalho mais ou menos na área e digo-te ninguém controla nada, faz-se o melhor trabalho profissional, cumprem-se objectivos. A estratégia é pura farsa. Não temos vilão, por isso o "eles" ser tão difícil de dizer. O único vilão é o monstro que criámos e que todos alimentamos e que nos faz sobreviver: o mercado.

julho 28, 2005  
Blogger ana said...

"eu trabalho mais ou menos na área" ... então tu és ELES... (Brincadeira)

sim, acho que a cena é toda alimentada por nós... mais um ponto para o meu auto-projecto de reduzir o meu contributo para a sociedade consumista

e eu acho que ha muita gente por aí a querer o mesmo, sair deste dilema do prisioneiro em que eu compro porque tu compras e eu publicito porque tu publicitas, e há imensa gente a trabalhar para comprar coisas que afinal não vão satisfazer coisa nenhuma...

sim, a publicidade eficiente é essa, coração de manteiga, queria uma necessidade onde não existia, uma lacuna cá dentro, uma sensação de que afinal é bem mais complicado existir, pq agora tb temos que comprar isto aquilo e aqueloutro que antes nem imaginavamos existir

julho 28, 2005  
Anonymous Anónimo said...

A publicidade é informativa apenas no sentido mais básico da coisa: informa-te que qualquer coisa existe.

Como é que sabes que não pagarias mais pelo cinema se não houvesse publicidade?

Eu, por mim, até gosto de saber que o filme começa oito minutos depois da hora. Tantas vezes que só chego a meio da publicidade.

julho 28, 2005  
Anonymous Anónimo said...

No mercado quase tudo o que acontece está baseado na acção humana e nos valores que esta exprime (há permanentemente excepções, mas não são sustentáveis a prazo e estão em permanente correcção visto que dão prejuízo).

Consumimos muito estilo, muita imagem. Desde a T-shirt do Che Guevara, ao cigarros Malrboro até à embalagem do Tide que eu gosto por ser 50s-retro, pagamos por coisas imateriais no produto (não me interessa que o Tide lave mais branco, honestamente quero lá saber, agora a embalagem é mesmo fixe). Pago dois euros sobre o detergente marca branca para ter uma embalagem na prateleira que eu gosto de ver (acredito piamente que o

Grande parte disto é produzido através de publicidade. Por isso, os publicitários são criativos, porque produzem algo imaterial.

Mas mesmo imaterial tem valor, porque as pessoas preferem um produto com uma determinada carga simbólica (uma T-shirt do che ou uma embalagem de tide) a um produto sem marca.

Agora, podeis criticar as pessoas por comprarem produtos com estilo ou para o estilo, mas isso é extra-económico. Isto é, o mercado responde às preferências das pessoas de forma cega.

Sobretudo, porque como dizes, não há "eles", o mercado não existe enquanto entidade que decide, é um espaço.

julho 28, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Houve uma frase que ficou cortada:

Acredito que o produto de marca branca lave tão branco como o Tide, mas a embalagem do Tide é melhor.

julho 28, 2005  
Blogger ana said...

luis pedro, gostei dos teus comments

resta-me fazer uma pergunta em relação à tua observação:
"Consumimos muito estilo, muita imagem."

porque achas que isso acontece?

não acho que as pessoas hoje em dia tenham mais estilo do que as gerações anteriores, que viviam com um menor consumo...

julho 29, 2005  
Anonymous Anónimo said...

Porque é que eu acho que, nós homens, consumimos imagem?
gajas

Porque é que eu acho que as mulheres consomem imagem?
gajos

(perdoem-me as "alternativas", mas não vou enumerar, vocês já perceberam e com todas as hipóteses nunca mais era sábado).

E, não penso que seja uma coisa desta geração ou da cultura ocidental. Os nossos pais (e avós,...) eram mais pobres, não significa que tivessem outros interesses.

Desde os indios sul-americanos que se vestiam de penas para a guerra (as zarabatas envenenadas serviam ou para a guerra ou para caçar penas, visto que o animal morto por elas não era comestível [ficava envenenado]) ao facto dos produtos de maior valor terem tradicionalmente sido ornamentos (ouro, joía) até aos gritos marxistas contra a burguesia consumista (o materialismo marxista negava qualquer valor no imaterial), o impulso humano sempre lá esteve. As pessoas eram é muito mais pobres e logo, os níveis de consumo menores.

Se aumentares o ordenados de uma pessoa, ela consome mais. Talvez comece também a consumir mais produtos imateriais visto que estes correspondem a necessidades menos básicas, mas sobretudo consome mais.

Foi isso que aconteceu em relação a gerações passadas.

Somos mais ricos (e com padrões de consumo mais semelhantes entre ricos e pobres).

julho 29, 2005  

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