filme
já nem sequer tenho a certeza que isto tenha de facto acontecido, mas segundo me lembro tinha acabado de estacionar a minha doce Ilda (o meu carro, para quem ainda não tenha tido o prazer de conhecer) na rua dos meus pais, e estava a chover a potes. à falta constante de um chapéu de chuva, deixei-me ficar um bocadinho no carro (é só comigo que acontece esta vontade de permanecer um bocadinho no carro depois de o estacionar, mesmo que não esteja a chover?). devia estar a ouvir a radar ou a antena 3, porque infelizmente não conheço muitas mais (burguesa sub-urbana, ouve radar, xii, banalidade a quanto obrigas) e começa a dar uma música dos doors.
nunca fui muito fã dos doors, se bem que acho que foi com música deles que comecei a mexer os braços enquanto dançava (o que é um grande marco para mim, podem não acreditar, mas foi uma espécie de libertação do meu corpo), mas as letras deles são muito estranhas para mim, "és o rei lagarto? és o rei lagarto? mas para que é que isso me serve meu badochas?" é o tipo de pensamento que se me ocorre.
mas aquela música com aquela voz com aquela chuva estavam a saber-me bem. deixei-me ficar. devo me ter deixado ficar mesmo muito tempo (e a mãezinha em casa ralada) porque ouvi a música até ao fim, e acho que os doors nunca primaram por serem sucintos (como os pink floyd, aliás), acho que sentem que têm muito que dizer.
bom, mas então no fim o jim dizia qualquer coisa como que há uma forma de ver o pós morte que é pensar que vamos passar a eternidade a ver sempre o mesmo filme, vezes sem conta, e que esse filme é a nossa vida, em tempo real, sem aqueles extras dos dvds, que é passar por cima de capítulos e tal. não, se "aquilo" for verdade, eu daqui a uns bons anicos, quando morrer, vou iniciar uma duradoura vistoria do filme da minha vida, o que quer dizer que vou-me ver a escrever que me vou ver nesse filme. ehehe
"e então minha badochas, para que é que isto me serve?" perguntam vocês. bom, hoje acordei a pensar nisto. é uma forma engraçada de ver a eternidade, e é certamente uma forma engraçada de estruturar a vida: dizer "eh pá, desculpa lá mas não vou fazer isso contigo porque senão na eternidade vou ter que ver que fiz isso, e acho que me vai dar ansiedade sentir que não posso passar esse episódio à frente" em vez de um simples "não" quando a nossa mãe nos perguntar se queremos ir com ela a uma reunião tupperware. não sei se ela vai entender muito bem a resposta, ou ficar com aquele olhar de "ai! onde é que eu falhei?", mas podemos sempre dizer-lhe "deixa-te de ser sonsa que eu sei bem que andaste de mamocas ao léu num concerto de doors".
nunca fui muito fã dos doors, se bem que acho que foi com música deles que comecei a mexer os braços enquanto dançava (o que é um grande marco para mim, podem não acreditar, mas foi uma espécie de libertação do meu corpo), mas as letras deles são muito estranhas para mim, "és o rei lagarto? és o rei lagarto? mas para que é que isso me serve meu badochas?" é o tipo de pensamento que se me ocorre.
mas aquela música com aquela voz com aquela chuva estavam a saber-me bem. deixei-me ficar. devo me ter deixado ficar mesmo muito tempo (e a mãezinha em casa ralada) porque ouvi a música até ao fim, e acho que os doors nunca primaram por serem sucintos (como os pink floyd, aliás), acho que sentem que têm muito que dizer.
bom, mas então no fim o jim dizia qualquer coisa como que há uma forma de ver o pós morte que é pensar que vamos passar a eternidade a ver sempre o mesmo filme, vezes sem conta, e que esse filme é a nossa vida, em tempo real, sem aqueles extras dos dvds, que é passar por cima de capítulos e tal. não, se "aquilo" for verdade, eu daqui a uns bons anicos, quando morrer, vou iniciar uma duradoura vistoria do filme da minha vida, o que quer dizer que vou-me ver a escrever que me vou ver nesse filme. ehehe
"e então minha badochas, para que é que isto me serve?" perguntam vocês. bom, hoje acordei a pensar nisto. é uma forma engraçada de ver a eternidade, e é certamente uma forma engraçada de estruturar a vida: dizer "eh pá, desculpa lá mas não vou fazer isso contigo porque senão na eternidade vou ter que ver que fiz isso, e acho que me vai dar ansiedade sentir que não posso passar esse episódio à frente" em vez de um simples "não" quando a nossa mãe nos perguntar se queremos ir com ela a uma reunião tupperware. não sei se ela vai entender muito bem a resposta, ou ficar com aquele olhar de "ai! onde é que eu falhei?", mas podemos sempre dizer-lhe "deixa-te de ser sonsa que eu sei bem que andaste de mamocas ao léu num concerto de doors".
5 Comments:
A "vida" depois da morte...
read this:
"O nosso lar" - Chico Xavier
=D
a grande conquista da vida sobre a morte é essa, parece-me. fazer da vida motivo de loop.
(melhor que a minha teoria antiga de que a morte seria uma espécie de mira técnica eterna - sem a musiquinha, apenas com aquele apito infernal e constante - acho que não me decidi se a cores ou a preto e branco)
(eu gosto de permanecer no carro.
se foi doors, foi na radar.
grande post.)
Eu gosto de permanecer no carro quando está a chover. E quando apanho um daqueles programas da Antena 2 feitos para pessoas como eu que não percebem nada de música clássica em que eles dão umas luzes. Uma vez estavam a falar de um tipo simplesmente fabuloso: um italiano, um tal Berio que pegou em Stravinsky e fez algo de interessantíssimo [eles "deram a ouvir" e soava muito bem], compôs poemas, surealistas parece-me, que eram declamados pelos músicos nas pausas [enquanto não tocavam o respectivo instrumento]. A própria forma de declamar era fantástica, dois, três de cada vez, de forma ritmada, por vezes dentro do tom, por vezes quase parecia rap outras vezes com uma linha melódica, em italiano. Isto tudo ouvi enquanto chovia copiosamente e eu dentro do carro, deliciado. Quanto à morte segundo o rei lagarto... hã... vou ali tomar um áciudo e já venho... lol. Ncomo exercício talvez tenha interesse pensar nessa proposta. Mas como exercício. Eu, a nível filosófico e religioso, neste momento acredito mais na reincarnação. Sim, surpreendi-me a mim próprio. Mas é na reincarnação que começo a acreditar cada vez mais seiramente.
Eu também gosto de ficar no carro a ouvir música e ler. Adoro a ideia de carro-casinha.
- também me deixo ficar no carro um bocado, se estiver a dar uma musica que me apetece mesmo ouvir!
- também oiço a radar;
- também acho que os doors não são sucintos, mas sempre se aturam bem melhor do que os pink floyd.
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