terça-feira, agosto 16, 2005

memória selectiva - 3

quanto mais queremos controlar os outros menos oportunidades temos para vermos tudo o que eles são e querem ser

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estes três posts que publicaste bem que se poderiam chamar ‘introdução à psicanálise’. Primeiro, o inconsciente, esse espaço indeterminado (o id) onde está tudo o que esquecemos, ou não conseguimos lembrar, ou lembramos sem saber que o lembramos, e que de alguma forma nos condiciona e nos determina sem que o saibamos bem como. O que é nosso de uma forma nebulosa, que o sabemos nosso mas o esquecemos, o arquivamos, sem saber ao certo como o recuperar, torná-lo presente. Depois, o subconsciente, essas memórias do passado, esse nosso lado não completamente resolvido, mas que está lá, semiconsciente, e em relação com o qual construímos o que podemos chamar de nosso, o que podemos reinventar como sendo aquilo que somos ou tentamos ser. E, saltando o ego que é essa relação intima e complexa que temos com o que somos, eis que surge o superego, esse censor máximo, que tudo quer controlar, na ilusão de que esse é o caminho do conhecimento verdadeiro, como se encontrar não fosse perder e como se não fosse naufragando que se descobre/inventa o porto seguro onde podemos alimentar a ilusão de sermos aquilo que somos. O superego que não contente em se controlar a si próprio, tenta controlar tudo e todos, reprimindo e silenciando, o que só a palavra, ainda que confusa e indeterminada, pode libertar e ajudar a reintegrar/reinventar, numa espécie de perdão, que é o encontro da inocência primordial com a maturidade reconfigurada para além dos sentimentos de culpa e dos demónios castradores da inveja e do ressentimento que impedem o amor e a abertura ao ser que nos ultrapassa e que é ainda parte de nós, enquanto possibilidade reintegrativa de tudo o que fomos, somos, seremos e de tudo o que nunca chegaremos a ser, mas que sendo o que somos, no saber frágil de o ser, é já ser isso que escapando ao que somos nos aproxima do que somos e queremos ser.

agosto 17, 2005  
Blogger Eduardo da Fonseca Joaquim said...

Em Psicanálise não sou literado (onde é que estão as minhas aulas de Psicologia do 12º ano?), mas não posso deixar de considerar actual o desafio desta tua última frase no meu dia a dia por entre jovens executivos que se acham de elevado potencial. É ver chefes de projecto com uma ânsia de dominar todo e qualquer segundo do dia dos membros da equipa; toda e qualquer actividade desenvolvida, numa dúvida constante de que estes possam não estar a ir no caminho correcto; numa tentativa faminta de mostrar superioridade.

E é também ver alguns chefes de equipa que já não são jovens e que já parecem ter aprendido que para conhecer e desenvolver pessoas é necessário deixar-lhes espaço vital.

Mesmo que os resultados finais sejam normalmente esclarecedores da melhor alternativa, o desafio de não cair na tentação do controlo é megalómano. É à medida que vou crescendo neste ambiente que cada vez mais me apercebo da tentação, eu próprio numa luta diária contra ela.

agosto 18, 2005  
Blogger ana said...

jctp:
"e como se não fosse naufragando que se descobre/inventa o porto seguro onde podemos alimentar a ilusão de sermos aquilo que somos"

o super-ego é de facto o menos cool das nossas "entidades", aquela que castra.
a tua descrição do super ego fez-me ligá-lo ao medo que sentimos face aos outros, ao nosso medo de sermos expulsos, o nosso medo de não controlarmos. pq se censura? qual a distância entre negociar com a sociedade e deixar que ela nos castre?

existirá super ego para quem viva isolado dos outros?

eu não acredito que o inferno são os outros, mas acho que o contacto com os outros nos impõe negociações connosco mesmos, um caminho entre a libertação dos caprichos interiores (da tal criança inconsciente) e a escravização aos caprichos dos outros.


zé trotas (bem vindo sejas!): acho que de uma certa forma o que escreveste tem a ver com o que ando a pensar. as pessoas mais maduras, mais seguras de si, são as que não se importam de arriscar tanto, são as que tem um centro suficientemente forte para serem leves na vida, são as que se conhecem e logo conseguem sentir mais empatia com os outros e conseguem estimular o melhor deles

agosto 19, 2005  
Blogger ana vicente said...

não li nada de comentários, porque estou out de tudo isto. Aterrei aqui, vinda do fim do mundo à beira do paraíso, e estou de passagem, não fico muito tempo. Não quero por isso voltar antes de tempo.

Aproveito apenas para dizer que é exactamente isso. E acrescento ainda que quanto mais queremos controlar os outros, menos vemos tudo o que somos e tudo o que queremos ser.

agosto 21, 2005  
Blogger T. M. said...

Hmmm...muito interessante este teu post. Eu passei grande parte da minha vida a controlar (com demasiado sucesso) outros e percebi que isso não leva a lado nenhum (proveitoso). Depois vou ler os comments com calma, mas a verdade é essa: o controle coarcta a capacidade de conhecer o outro e por vezes nós mesmos.

agosto 26, 2005  

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