"AB: Um professor meu dizia-me que a arte contemporânea tem 3 grandes temas: o sexo, a religião e a morte. CD: Ou seja o que se quer o que não se quer e o que não se evita ... EF: Qual deles é qual?"
Não sei se Asclépio, o velho Asclépio, deus grego da medicina, assenta bem na religião. Mas tendo em conta que etimologicamente psiquiatria significa “cura da alma”, o que vem afinal a ser a religião senão uma forma de medicina. Há quem diga o mesmo da arte.
Há também quem diga que todas estas coisas podem ser sublimadas e metamorfoseadas em outras. Pois que o sexo se pode transmutar em amor, a morte em vida e a religião em arte. Como dizia o Torga: Deus é pura poesia.
Embora todos estes processos metamorfoseantes do ser e das coisas pareçam ir contra os tempos modernos que insistem na coisidade das coisas ou as dissolvem no conforto vazio da demagogia pós-moderna.
gostei desse potencial de metamorfose e sublimação, e acredito nesse papel terapeutico da arte.
o que é a coisidade das coisas?
o conforto é um problema, acredito. no livro que estou a ler a qualidade da vida sexual de uma das personagens (que até era o paul gaugin) era inversamente proporcional ao conforto da sua vida.
Esses são os grandes temas da arte, parece-me, contemporânea ou não. Antes, dizia-se amor, Deus e morte. Ainda não se arranjou um novo nome para a morte?
Tiago: podes sempre definir coneitos pela afirmação ou pela negação. eu prefiro pensar na morte como a não-vida e na vida como a causa de tudo incluindo a morte, incluindo o medo da morte. A mim é a vida, não a morte, que me move! Porque como me dizia o Viriato um destes dias: 'porquê preocuparmo-nos com um acontecimento de probabilidade 1? Não vale a pena.'
E não vale mesmo, já a vida não tem probabilidade um, logo aí, estar viva, é causa pra mim de grande sentimento de sorte e formigueiro na ponta dos sentidos...
Também há quem diga que não fazemos sexo por causa da morte, mas que morremos por causa do sexo. Daí a associação inconsciente entre o pecado original e a sexualidade, apesar de não aparecer directamente no texto que o inventou. E nesse sentido Eva teria sido a tentação de Adão, tal como Adão teria sido a tentação de Eva. Deus criou-os e disse-lhes: Tendes a possibilidade de usufruir dos prazeres da carne, se o fizerdes, morrereis. Se resistirdes, vivereis para sempre e sereis deuses.
Não resistiram.
Do alto da sua eternidade, Deus julgou ouvir uma voz vinda das profundezas mortais da humanidade que dizia: “Descobriram a verdadeira vida.” Seria talvez a Serpente, que naquela altura tudo gostava de observar e comentar. Deus sorriu-se, e pensou para si próprio, num misto de tristeza e alegria, que talvez, talvez andássemos todos ao engano.
13 Comments:
Eros, Tanatos e Asclépio.
Não sei se Asclépio, o velho Asclépio, deus grego da medicina, assenta bem na religião. Mas tendo em conta que etimologicamente psiquiatria significa “cura da alma”, o que vem afinal a ser a religião senão uma forma de medicina. Há quem diga o mesmo da arte.
Há também quem diga que todas estas coisas podem ser sublimadas e metamorfoseadas em outras. Pois que o sexo se pode transmutar em amor, a morte em vida e a religião em arte. Como dizia o Torga: Deus é pura poesia.
Embora todos estes processos metamorfoseantes do ser e das coisas pareçam ir contra os tempos modernos que insistem na coisidade das coisas ou as dissolvem no conforto vazio da demagogia pós-moderna.
gostei desse potencial de metamorfose e sublimação, e acredito nesse papel terapeutico da arte.
o que é a coisidade das coisas?
o conforto é um problema, acredito. no livro que estou a ler a qualidade da vida sexual de uma das personagens (que até era o paul gaugin) era inversamente proporcional ao conforto da sua vida.
Andas a ler O paraíso na outra esquina?
:)
Com este post, confesso, fiquei confuso, sorridente e com vontade de te dar um abraço... a p e r t a d o !
jctp: sim, ando! ;-b já leste portanto! (e gostaste, suponho)
nuno, venham daí esses ossos!
O que eu gosto é da pergunta final, do/a EF.
Esses são os grandes temas da arte, parece-me, contemporânea ou não. Antes, dizia-se amor, Deus e morte. Ainda não se arranjou um novo nome para a morte?
A maneira mais fácil de viver é conjugar as três coisas num só conceito, a saber:
Por amor de Deus!, a morte que se foda!!!
eheh, grande doris!
a religiao so' existe porque existe a morte, logo ha um problema de causalidade aqui
o sexo so' existe pq existe a morte. se nao houvesse necessidade (biologica, original, nao pensemos em hoje), nao havia sexo.
logo, a morte e' a verdadeira e un(ic)a causa de tudo.
Na verdade, não li O paraíso na outra esquina.
Digamos que o conheço de vista. Nada de grandes intimidades.
Tiago: podes sempre definir coneitos pela afirmação ou pela negação. eu prefiro pensar na morte como a não-vida e na vida como a causa de tudo incluindo a morte, incluindo o medo da morte. A mim é a vida, não a morte, que me move! Porque como me dizia o Viriato um destes dias: 'porquê preocuparmo-nos com um acontecimento de probabilidade 1? Não vale a pena.'
E não vale mesmo, já a vida não tem probabilidade um, logo aí, estar viva, é causa pra mim de grande sentimento de sorte e formigueiro na ponta dos sentidos...
Também há quem diga que não fazemos sexo por causa da morte, mas que morremos por causa do sexo. Daí a associação inconsciente entre o pecado original e a sexualidade, apesar de não aparecer directamente no texto que o inventou. E nesse sentido Eva teria sido a tentação de Adão, tal como Adão teria sido a tentação de Eva. Deus criou-os e disse-lhes: Tendes a possibilidade de usufruir dos prazeres da carne, se o fizerdes, morrereis. Se resistirdes, vivereis para sempre e sereis deuses.
Não resistiram.
Do alto da sua eternidade, Deus julgou ouvir uma voz vinda das profundezas mortais da humanidade que dizia: “Descobriram a verdadeira vida.” Seria talvez a Serpente, que naquela altura tudo gostava de observar e comentar. Deus sorriu-se, e pensou para si próprio, num misto de tristeza e alegria, que talvez, talvez andássemos todos ao engano.
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