"Ele podia decidir matá-la. Ela podia sempre decidir livrar-se dele.
Mas por enquanto, pensou Cat, podiam continuar juntos.
Podiam adiar as suas decisões de hora para hora e talvez de mês para mês ou até de ano para ano. Ela poderia querer, apesar de tudo, ser a mãe dele, mesmo que isso se revelasse fatal. E ele , no fim de contas, poderia não estar à espera da melhor oportunidade para a punhalar com a faca do pão ou para a sufocar com uma almofada durante o sono; poderia decidir fazê-lo gradualmente, como as crianças têm feito desde o início dos tempos. De certa forma, ele já a tinha matado. Pusera fim à vida dela e arrastara-a para uma nova vida, para aquele louco renascimento, aquela viagem à vasta confusão do mundo, aos seus simultâneos e infindáveis colapso e regeneração, às suas pequenas promessas, duras como prendas, aos seus senhores e aos seus obreiros, aos seus refugios que nunca perduravam, que não foram feitos para perdurar.
Morrer é diferente do que se pensa, e mais feliz.
A criança manteve o sorriso assassino.
Cat sorriu-lhe também."
Michael Cunningham*, Dias Exemplares (o itálico é um excerto de um poema de Walt Whitman)
* com alto patrocínio dos posts vicentinos sobre o autor.
2 Comments:
foi um prazer.
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