"É evidente que, em grande medida, a agenda internacional é hoje condicionada por problemas de segurança. Existe, justa ou injustamente, uma percepção de que a guerra no Iraque tem a ver com a segurança global, que preocupa, e bem, as opiniões públicas, independentemente de as respostas nem sempre serem as mais adequadas. O Congo é uma realidade distante que não ameaça ninguém, embora o abandono do continente africano, com a multiplicação das crises e dos conflitos, seja responsável pelo número cada vez maior de africanos cuja única opção - e agora não falo de refugiados, falo de imigrantes - é tentar encontrar uma saída emigrando para o mundo desenvolvido e, em particular, para a Europa. [Há, pois, uma consequência directa da crise do Congo para o Ocidente] que está a causar na própria Europa um impacte para o qual os governos europeus não foram, até agora, capazes de definir nem uma política, nem uma estratégia, nem sequer encontrar uma resposta ao nível do debate com as suas opiniões públicas. O resultado é a multiplicação de um discurso de natureza populista e uma confusão sistemática entre conceitos como imigrantes, refugiados, problema de segurança e terrorismo. Isso desencadeia uma irracionalidade que não ajuda nada a Europa a resolver os seus problemas demográficos, económicos e, ao mesmo tempo, a conseguir afirmar-se no contexto internacional com um impacte que tem sido perdido em grande medida nos últimos anos. "

António Guterres, Entrevista ao Publico, 13 de Junho de 2006