Sei que não vou por aí! - ou um post potencialmente conservador
há tão pouco livre arbítrio em ser como os outros, como em querer ser o oposto dos outros
saber que não vou por aí, não é exactamente saber que vou na direcção oposta.
há 360 º de hipóteses. escolher a direcção 180º do outro, soa a demasiada coincidência para corresponder a uma verdade interna.
irritam-me aquela necessidade de afirmação pela oposição, faz-me lembrar a frase da mafaldinha do quino, qq coisa como "há então tu és do grupo daqueles que não querem fazer parte do outro grupo"
quando nos focamos naquilo que os outros são, e nos desenhamos como oposição a isso, acabamos por não respeitarmos aquilo que temos cá dentro.
exemplo parvo, retirado de uma conversa com uma das minhas sobrinhas, mas que "i have been there" e para além do mais há muitos adultos que pensam assim: não comprar uma coisa porque só os betos é que usam, apesar de nós até gostarmos
a riqueza que podemos trazer ao mundo e aos outros está muito para além da simples oposição.
muitas vezes a riqueza que trazemos ao mundo é uma nova forma de harmonizar ou lidar com contradições que todos temos. de assumirmos essas nossas contradições. de não comprarmos um pacote qualquer, seja o da conformidade, seja o da oposição.
gosto de ópera e gosto de rock, gosto de ingmar bergman e gosto do brad pitt, gosto dos artistas unidos e gosto do star wars. gosto do hedonismo do oscar wilde, e tenho uma forte cultura de abnegação (oh mãezinha a quanto obrigas), sou coitadinha mas também sou uma filha da puta (coitada da minha mãezinha, que não tem nada a ver com isto).
saber que não vou por aí, não é exactamente saber que vou na direcção oposta.
há 360 º de hipóteses. escolher a direcção 180º do outro, soa a demasiada coincidência para corresponder a uma verdade interna.
irritam-me aquela necessidade de afirmação pela oposição, faz-me lembrar a frase da mafaldinha do quino, qq coisa como "há então tu és do grupo daqueles que não querem fazer parte do outro grupo"
quando nos focamos naquilo que os outros são, e nos desenhamos como oposição a isso, acabamos por não respeitarmos aquilo que temos cá dentro.
exemplo parvo, retirado de uma conversa com uma das minhas sobrinhas, mas que "i have been there" e para além do mais há muitos adultos que pensam assim: não comprar uma coisa porque só os betos é que usam, apesar de nós até gostarmos
a riqueza que podemos trazer ao mundo e aos outros está muito para além da simples oposição.
muitas vezes a riqueza que trazemos ao mundo é uma nova forma de harmonizar ou lidar com contradições que todos temos. de assumirmos essas nossas contradições. de não comprarmos um pacote qualquer, seja o da conformidade, seja o da oposição.
gosto de ópera e gosto de rock, gosto de ingmar bergman e gosto do brad pitt, gosto dos artistas unidos e gosto do star wars. gosto do hedonismo do oscar wilde, e tenho uma forte cultura de abnegação (oh mãezinha a quanto obrigas), sou coitadinha mas também sou uma filha da puta (coitada da minha mãezinha, que não tem nada a ver com isto).
41 Comments:
Querer ser "outro eu" faz parte da condição humana e pode facilitar a compreensão mútua... Não convém é exagerar!
MF
Gostei. Mas cuidado com os simplismos e querermos ver o mundo aos nossos olhos. Há mais para além dos 360o. Podes estar parada, a saltar, a ir ao centro da terra, a saltar em piruetas, em mortais, mortais para trás, podes escolher rotas hiperbólicas, e tanto mais. Não temos que ir todos em linha recta como os cavalinhos de Sintra.
Também falei aqui do tema do snob que faz tudo apenas para ser diferente dos outros.
http://aforismos-e-afins.blogspot.com/2005/08/teoremas-pessoanos-8_05.html
A imagem marca muito e os portugueses têm problemas em ver para além disso. Eu detesto andar com coisas nos bolsos e ando com aquelas bolas a tiracolo e não sou gay nem intelectual de esquerda. Adoro sapatos de vela e não sou beto. Gosto do meu fato de linho branco no verão e não sou gigolo. Gosto de vestir bem sem ser yuppi, nem fashion, nem o raio que os partam. Os portugueses têm a mente muito fechadinha.
Gostei do teu final! Gostava de ir aos artistas unidos, mas... have to be back soon :)
"Há mais para além dos 360o. Podes estar parada, a saltar, a ir ao centro da terra, a saltar em piruetas, em mortais, mortais para trás, podes escolher rotas hiperbólicas, e tanto mais. Não temos que ir todos em linha recta como os cavalinhos de Sintra"
é exactamente isso! e o post tem tudo a ver, se bem que não concordo sobre o que ele diz do oscar wilde (ihih, fã até ao fim)
ah pedro, sempre és do meu sporting, tava a ver!
Não encontro nada de potencialmente conservador no teu post.
Progressista diria, sem uma ponta de reacção.
Não sei se concordo com a ideia de que existe um hedonismo de Oscar Wilde... mas isso são peanuts.
Ana Vicente
não percebi.
explica os peanuts
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
O Oscar Wilde escreveu maioritariamente peças de teatro. Escreveu um romance, ensaios sobre estética e histórias "infantis". Muitas das frases que lhe põem na boca são de personagens criadas por ele.
Não quero com isto dizer que tais personagens não são um reflexo dele, mas apenas acrescentar a dúvida. Por outro lado, reconheço witt e inteligência neste GRANDE escritor (só para não pensares que não sou fã, porque sou muito). E reconheço um olhar clínico, cínico e aparentemente frio naquilo que as suas mais famosas (e mais citadas) personagens dizem e nas quais me reconheço (em certa medida).
O romance de WIlde, O retrato de Dorian Gray não é um espelho de hedonismo, é um retrato sobre a alma humana e sobre comportamentos pérfidos à sua beleza. Os contos "infantis" são extremamente morais.
Repito, adoro Wilde, e gosto principalmente dessa contradição: entre a leveza da juventude e a monstruosidade do fim da sua vida. Não sei se poderei dizê-lo, mas acho que Oscar Wilde era profundamente cristão e, por isso, nunca poderia vê-lo como um hedonista.
ok, entendo ana. concordo.
há uma dualidade incrível. ontem acabei de (re)-ler o retrato de dorian gray, e achei espantosa a dualidade entre o harry e o dorian. sendo aparentemente um seguidor do harry, o dorian não se apercebeu do critério estético que havia por detrás da moral.
o livro é simultâneamente um apelo ao hedonismo, ao fazer da vida arte (ideia que é repetida umas 3 vezes no livro, mas sempre bem vinda) e é simultaneamente uma chamada de atenção de que não podemos viver em beleza sem mantermos a beleza da nossa "alma".
de resto só vi duas peças dele: a importância de ser ernesto, e o marido ideal, nas quais se torna deliciosas algumas ideias sobre o amor-próprio, que é uma outra forma de amor à vida.
Vou tocando meu burrinho
no caminho que escolhi
tome cada qual o seu
não vai o meu por aí.
(Agostinho da Silva)
Ana, concordo com a Ana Vicente, apesar de não conhecer tão bem a obra (toda) dele. "Hedonismo" parece-me uma palavra pouco apropriada. O elogio do belo que está patente no Retrato de Dorian Gray não tem directamente a ver com hedonismo, mas com uma forma de ver (e cultivar) a estética.
t.m.
aceito a crítica
há de facto mais preocupação com a estética do que com o hedonismo, mas o hedonismo está lá! (queres porrada, é?)
Onde? diz-nos onde!
ai!
nos conselhos que o harry dá ao dorian no início do livro, acho. mas posso verificar.
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