segunda-feira, fevereiro 20, 2006

repegando lá atrás....

"Luísa said...
concerteza, a avaliar pelos escritos de ambos, andava mais ocupada a fazer o que eles próprios gostariam de conseguir - viver! - que a escrever sobre o que gostaria de...blá, blá, bládiblá!escolheu bem, catano!
Fevereiro 17, 2006 "


sim, ai, mas...


e se a escrita da anaïs nin e do henry miller contribuiram mais para o prazer que podemos tirar do mundo, para a beleza dele, do que os passos, acções de june? terão eles vivido menos por escreverem mais?

qual a linha que divide o tempo vivido do tempo não vivido? o que poderá separar estes dois tempos de diferentes qualidades? qual a característica? será o número de pulsações por minuto? o número de palavras pensadas? o número de km andado? o número de feromonas libertado?= o número de endorfinas produzido? o número de livros lido? o número de amigos com que estávamos? o número de lágrimas que chorámos? o volume da gargalhada dada? o número de filmes visto?

há alguma dizer que A viveu mais que B? como sabemos nós o que dizemos quando dizemos "viver"?

11 Comments:

Blogger ana vicente said...

Acho que a única bitola que interessa, além do amor, é o auto-conhecimento: A conhecia-se melhor que B e, por isso viveu melhor, mesmo que tenha vivido menos.

fevereiro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

Sim, viveram menos por escreverem mais, sim, ajudam outros a viver pela análise da vida, pelo olhar contrastante que leva quem lê a maximizar o seu próprio olhar, o seu próprio sentir. Mas a análise do objecto não é o próprio objecto em si, não pode ser. Viver não é dizer, é sentir.

E o sentir não é necessariamente mudo, mas claramente não é perene, como as folhas de papel e a tinta e os livros. Fazendo um 'silogismo', neste sentido viver é sentir aqui e agora, sempre aqui e agora, sempre momentaneamente, sem história nem planos.(Paradoxalmente, fazer planos pode ser um momento de grande intensidade de vida e sentir, não é?...)

De Henry e June e Anaïs poder-se-ia dizer que o que interessa não é viver ou escrever, mas ter sentido aos próprios olhos, isso é que nos permite morrer em serenidade. Espero...

fevereiro 21, 2006  
Blogger ana said...

viveram menos por escreverem mais? viver não é dizer é sentir,mas não se sente quando se diz? não se sente quando se escreve?

escrevi muitas cartas muito mais intensas que muitos dias inteiros, e li muitas cartas muito mais intensas do que dias inteiros. e a palavra também é vida e sentimento, ou pode ser.

sentir aqui e agora pode ser escrever aqui e agora, não?



(ana vicente, sim, concordo que é uma boa bitola, até pq através de uma boa dose de auto-conhecimento se sabem ir buscar aos momentos aquilo que nos dá mais prazer)

fevereiro 21, 2006  
Blogger anarresti said...

Ontem vi um filme engraçadito na Sic Radical. Sim, engraçadito. Não posso dizer que fosse um grande filme. O protagonista é um artista, aparentemente um grande artista plástico, visual, que procura ter uma carreira de sucesso, quebrando as barreiras conceptuais da arte. Há um momento interessante de ruptura no filme. O momento em que a namorada dele o abandona. Ele está num café a falar sobre a vida dele, sobre o último fracasso, sobre a incompreensão das pessoas em relação ao trabalho dele, de uma forma apaixonada, com um discurso vibrante, electrizante mesmo. Ela, naquele momento atinge o ponto de saturação. Diz-lhe que ele vive completamente obcecado com a vida dele, de tal forma que não é capaz de Viver. Diz-lhe que ele só consegue pensar nos seus sucessos e nas suas derrotas. Na sua angústia pessoal, nas suas expectativas. Penso que é um momento bastante libertador. Para ela. E poderia ter sido para ele. Mas não foi. Realmente este artista vive tudo intensamente. A vida dele é um percurso de grande intensidade. Em que tudo é posto em jogo a cada instante. Em que nada é deixado ao acaso, em que as coisas mesquinhas da vida não interessam, só as questões inquietantes, existenciais, são motor e impulso. Mas será que ele vive mesmo? Será que ele vive realmente no mundo? Ou não será uma ilusão, feita à medida da ideia de si que lhe interessa ter, a vida que ele pensa viver? A relação com a namorada resultou enquanto funcinou numa lógica de admiradora/admirado. Depois ruiu. quando ela quis viver a sério, ele continuava de cabeça no ar. Viver as questões que interessam é ir fundo dentro de nós. E isso suspeito que estes dois, Nin e Miller, terão feito. Por isso escreveram como escreveram. Mas é uma suspeita, um palpite, apenas. É injusto fazer um julgamento a esta distância e sem os ter conhecido. E não é só um artista que pode ter uma vida de auto-obsessão e alienação. Todos corremos esse risco. E muitos, suspeito novamente, caímos no erro.

fevereiro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

para mim sim: escrever aqui e agora pode ser sentir aqui e agora, mas a escrita enquanto literatura k Miller e Nin deixaram e hoje nos faz sentir kkr coisa teve necessariamente muita revisão, muita escrita pela escrita, muito burilar do objecto que não foi burilar do sentir. É nesse sentido que acho k se transforma em viver menos, na mesma medida em que se transforma em expressão artística - sentimento para o público, não para o artista necessariamente.

Partilho inteiramente do que dizes das tuas cartas, só acho é que não escrevo como eles. Ou por outra: podia falar tudo o que escrevo que o que transmito seria igual. Acho k eles não. Por isso eles são escritores e eu sou só uma gaja porreira. (Às vezes! ;o) )

Nuno, concordo com o risco da auto-obsessão. Síndroma claro duma humanidade cada vez mais urbanizada, individualista, isolada do meio ambiente e humano. A felicidade está em nós e há que procurá-la, mas também a tentação da alienação em mim próprio mora nesse caminho... isto faz-me lembrar o siddharta!

fevereiro 21, 2006  
Blogger ana said...

sabes nuno, para ele aquilo podia ser a vida, podia ser a forma que soube escolher para dar um significado à vida, como podemos nós dizer que não, que não era aquilo mas outra coisa. podia ser a coisa para ele.

quando a irmã lucia (meu deus, tou a falar da irmã lucia) morreu a minha sobrinha de 12 anos perguntou quem era e eu expliquei-lhe, e que ela tinha escolhido não falar. disse-o num tom jucoso, e hoje arrependo-me. porque cada pessoa escolhe a sua forma de viver, o seu propósito. e a única coisa por que torço, ou peço ao universo, é que cada pessoa "escolha em consciência" e tenha a liberdade interna de se ouvir e externa de por em prática o seu objectivo.

luisa:
"muito burilar do objecto que não foi burilar do sentir"... bom, burilar um objecto é amar um objecto, que pode querer dizer amar alguém pelo caminho (seja a nós próprios que nos vemos a criar algo bom, seja a alguém a quem queiramos dar essa obra). sou a favor de burilar como uma forma talvez menos intensa mas necessária de vida.

fevereiro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

:D claro que sim, mas sempre fomos diferentes nisso: enquanto tu e a K ficavam a 'burilar' eu ia lavar a loiça! e só voltava na altura da 'indispensável' dedada, LOL!

Não pretendo vender o meu peixe como solução geral, que isso fique bem claro. O que importa é que cada um seja coerente com a sua própria natureza nas suas opções, como dizes. A minha maneira de estar viva pode não ser igual à tua mas reservo-me o direito de não ser politicamente correcta e ter uma opinião clara: viver rima com sentir e não com escrever.

fevereiro 21, 2006  
Blogger jctp said...

"viver rima com sentir e não com escrever."

E escrever, rima com o quê?

fevereiro 21, 2006  
Anonymous Anónimo said...

escrever rima com criar, com divergir! :o)

fevereiro 22, 2006  
Blogger ana said...

criar rima com viver! há lá tesão maior do que um acto criativo!

fevereiro 24, 2006  
Anonymous Anónimo said...

EIA! Apanhaste-me, rendo-me!:D

fevereiro 24, 2006  

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